Informações Gerais

Data: 26 a 30 de março de 2009
Principais cidades visitadas:
                Tenente Portela (RS)
  Derrubadas (RS)
                Urubici (SC)
                Garopaba (SC)
                Florianópolis (SC)
Distância percorrida: 2173 km
Moto: XT-660R 2006
Acessórios:
Alforjes Givi E-29
Bolsa de tanque Gift
Bauleto Givi 45


Relato de Viagem

                Desde 2006 minha mulher e eu temos saído de férias entre os meses de março e abril pois tudo é mais barato se comparado com o período de férias escolares. Outro bom motivo é o clima; se a opção for visitar praias ainda está calor e se for viajar de moto para o sul (Patagônia ou Chile por exemplo) o “calorzinho” ainda permite.

                Em 2009 optamos em fazer uma viagem ao Ceará deixando a moto em casa, afinal em 2008 eu havia percorrido mais de 11000 quilômetros. Apesar dessa pretensão a situação “forçou” a tirar a moto da garagem. Entre um passeio e outro nas praias do Ceará a Carla, minha mulher, recebeu um telefonema de seu chefe solicitando que fosse a Brasília para algumas reuniões. Para nossa sorte as reuniões estavam marcadas para dois dias após o fim de nossa viagem pelo Ceará, portanto não atrapalhou.

                Após este telefone comecei a relembrar os meus projetos de viagem de moto e analisar qual seria o melhor para um período de 4 dias, tempo que a Carla estaria em Brasília. Não demorou muito e a decisão já estava tomada – o Salto do Yucumã.

                Para quem nunca ouviu falar este salto é a cachoeira mais larga do mundo com 1800 metros de largura e queda de 18 metros nos meses de novembro a abril, quando as águas estão mais baixas. No período de cheias o nível do rio sobe e as quedas ficam menores chegando, nos casos mais extremos, a desaparecer. Para impressionar ainda mais o rio um pouco antes das quedas tem aproximadamente 300 metros de largura e toda água após a queda se concentra em um canal que varia de 10 a 30 metros. Para comportar todo o volume a profundidade chega atingir 120 metros.

As quedas são do rio Uruguai que faz a fronteira entre o Brasil e a Argentina e estão localizadas do lado Argentino, mas é do lado brasileiro que conseguimos vê-las. O visual é fantástico. Para aumentar a beleza do lugar ha muita mata nativa e animais silvestres, tudo protegido pelo Parque Estadual do Turvo, que fica dentro do município Derrubadas no noroeste do Rio Grande do Sul a 487 quilômetros de Porto Alegre.

Chegamos de viagem do Ceará no dia 24/03 e já no dia 26/03, com o apoio incondicional de minha mulher, eu estava com os pneus na estrada. Saí cedo, pois o trajeto que tinha pela frente era longo, praticamente 800 quilômetros todo em pista simples, porém em bom estado de conservação (que vim a confirmar durante a viagem). As 6:30 entrei na BR-116 em direção sul até chegar ao entroncamento com a BR-470, onde virei em direção oeste. Parei para abastecer em Monte Castelo (140 km de Curitiba) ainda na BR-116 e depois em Curitibanos (a 315 km de Curitiba) já na BR-470. O tempo estava bom, com o céu nublado e temperatura de 20 graus.

Segui viagem e a partir de Joaçaba o céu abriu e o calor deu as caras, com a temperatura chegando próximo dos 30 graus, tornando a viagem um pouco mais cansativa, mas nada que tirasse meu ânimo.  Em Ponte Serrada (a 508 km de Curitiba) fiz uma parada mais longa, onde abasteci, almocei (lanche) e fiquei descansando a sombra por uns 30 minutos.

Continuei a oeste e no entroncamento com a BR-386 virei a esquerda e depois a direita em direção a Palmitinho onde parei para abastecer (a 734 km de Curitiba).  Após abastecer observei que a corrente estava muito frouxa e ao esticar fiquei preocupado, pois o esticador já estava praticamente no fim do curso.

As 16:10 horas cheguei a cidade de Tenente Portela (a 762 km de Curitiba) onde me hospedei, pois a cidade de Derrubadas, distante 18 km a frente, não possui hotéis. O hotel que fiquei é o Hotel Avenida, muito simples, porém bom, com farto café-da-manhã e preço bem acessível. Após um bom banho fui a recepção e perguntei por um lugar bom para comer. O rapaz olhou para mim e disse. “– Pela sua cara você está com fome e é bom de garfo, por isso vou indicar um lugar extremamente simples, porém com a melhor comida da cidade. Peça a chuleta no arado”. Segui as indicações e cheguei ao Restaurante e Churrascaria dos Amigos. Pedi o prato recomendado e me esbaldei, é realmente ótimo!!

Ao sair do restaurante liguei a moto e observei que o farol não acendeu, estava com a luz baixa queimada, como não tinha muito o que fazer liguei a luz alta e saí para dar uma volta pela cidade que é pequena, mas ajeitada.

Recolhi-me por volta das 21:00 e já na cama fiquei comparando as duas faces do Brasil que conheci em poucos dias. No Ceará fiz todo o estado (próximo ao litoral) e de leste a oeste observa-se muita pobreza e muita gente vivendo em condições de miséria. Já ao cruzar o estado de Santa Catarina, também de leste a oeste, o que se vê é uma região muito desenvolvida onde praticamente não há pobreza, muito menos miséria. As pessoas podem não ter posses, mas tem o básico. O mesmo se repetiu em meu caminho de volta que fiz cortando o norte do estado do Rio Grande do Sul.

Na manhã seguinte tomei o excelente café-da-manhã do hotel e saí para conhecer o tão esperado Salto do Yucumã. Passei por dentro da cidade de Derrubadas, que é minúscula e após percorrer uns 4 quarteirões de paralelepípedo (toda a cidade) entrei em uma estrada de chão, cujo a terra é bem avermelhada. Segui as placas por um percurso de 4 quilômetros até a entrada do parque. Paguei a taxa de R$6,50 (para motos) e segui por uma estrada bem estreita em meio a mata. Da portaria do parque até o estacionamento são 15 quilômetros que tem que ser percorridos bem devagar, no máximo a 40 km/h.




Coloquei o cadeado na moto e peguei a trilha de 150 metros em meio a mata até ter a primeira visão do Salto, é impressionante. Fiz diversos vídeos, tirei muitas fotos (de todos os ângulos possíveis) e curti muito o lugar. Fiquei praticamente 3 horas apreciando este presente de Deus.




As 13:00 horas já havia regressado ao hotel, arrumei as malas, fechei a conta e fui até o Restaurante e Churrascaria dos Amigos, porém dessa vez optei pelo rodízio – muito bom também, mas o prato do dia anterior é melhor.

Antes de entrar na estrada passei em uma oficina, comprei uma lâmpada de CG (a única que tinha) de 35W e instalei-a. As 14:30 estava na estrada novamente, porém ainda não era o caminho de retorno para casa, tinha muitos passeios a fazer ainda.

Peguei a BR-386 em direção sul passando pelas cidades Seberi, Lajeado do Bugre, Rondinha e Sarandi, até chegar a Carazinho (a 177km de Tenente Portela) onde abasteci e saquei um pouco de dinheiro. O dia estava quente porém com céu carregado e de tempos em tempos dava uma pancada de verão. Isso sobre o pó vermelho que estava acumulado pelas estradas de chão de Derrubadas tornou a moto marrom. Agora pela BR-285 segui em direção a Vacaria (a 392 km de Tenente Portela) onde pernoitei. Jantei no próprio hotel, pois estava cansado e não quis sair.

De Lagoa Vermelha a Vacaria o sol já havia se posto e com o farol sujo pelo barro e a lâmpada de CG passei muita raiva pois não enxergava praticamente nada. Para minimizar o perigo diminui um pouco a velocidade e aguardei um carro me passar, o qual segui o resto do trecho.

Na manhã seguinte saí em direção a Florianópolis, onde meus pais e minha irmã moram, para passar uns dias com eles. Obviamente para quem gosta de viajar de moto, nem sempre o caminho mais curto e óbvio é seguido. Por isso mesmo o caminho traçado fazia um belo zig zag. Saí pela BR-116 em até Lages, depois peguei a BR-282 em direção a Bom Retiro, entretanto 10 quilômetros antes peguei o acesso para Urubici. Dessa vez pude curtir a serra que dá acesso a cidade, pois em 2006 fiz este trecho a noite – segue a dica, quando for a Urubici chegue de dia, o visual vale a pena.

Abasteci em Urubici e almocei (lanchei) no posto mesmo. Dali em diante segui por estrada de chão em direção a Serra do Corvo Branco, com o objetivo de descê-la por completo, já que 3 anos antes isso não foi possível. A estrada não estava muito boa e por isso estava andando entre 30 e 40 km/h, o que graças a Deus evitou um grave acidente. Em uma curva me deparei com um caminhão vindo no sentido contrário no meio da pista e como não tinha como parar tive que escolher entre o caminhão e a extremidade da estrada que estava muito escorregadia. Obviamente preferi a lateral da estrada ao caminhão!!! Apesar da moto ir ao chão eu posso dizer que não caí, saí “catando cavaco” e consegui me manter de pé. Passado o susto fui levantar a moto, o que deu um trabalho enorme afinal estava no meio do nada e o caminhoneiro não parou.



Após acalmar-me segui viagem, agora mais cauteloso ainda, e cheguei a Serra do Corvo Branco. Obviamente parei várias vezes para fotos e curtir a paisagem. Após 52 quilômetros de estrada de chão cheguei a Braço do Norte, onde parei para beber muita água e abastecer a moto. O meu planejamento do dia previa passar por Gravataí, Tuburão, Laguna, Imbituba, Paulo Lopes, Palhoça e finalmente Florianópolis, porém logo após passar por Gravataí tirei para a pista oposta para ultrapassar um carro e ao acelerar a corrente arrebentou.








Assim que parei a moto parou um senhor com uma CG caindo aos pedaços com a corrente na mão e perguntou se eu precisava de ajuda. Como era um domingo e já eram quase 16:00 horas perguntei a ele se sabia de alguém que pudesse consertar a moto, mas sem esperanças. O senhor me falou: “- Sobe aí que te levo até a casa de um cara que arruma motos.” Ao chegar lá o mecânico desentortou a corrente (na marreta) e colocou uma emenda de Tornado. Estava concentrado no conserto e nem vi o senhor que me ajudou a sair, queria dar uma grana a ele, mas não deu.

Fui até a moto, agora na garupa do mecânico e em pouco menos de 10 minutos a corrente estava montada. Perguntei quanto ficaria o serviço e para minha surpresa o rapaz falou R$ 5,00. Era um domingo e tirei o cara de frente da TV, por isso dei-lhe R$ 20,00.

A velocidade do socorro e a pronto atendimento das pessoas só pode ser obra de Deus, sou muito grato a ele por tudo – sempre!

Em função dos problemas técnicos, do horário avançado (17:30), faltarem  160 quilômetros, a BR-116 estar em duplicação e a lâmpada ser fraca optei em parar em Garopaba. Achei prudente, afinal eram muitas as variáveis contra. Instalei-me na Pousada Maré Mar na avenida beira mar da praia principal. Como já era fora de temporada o preço foi bem acessível. Jantei em um restaurante na esquina da pousada e fui para cama. Antes mesmo do Fantástico acabar já tinha desmaiado.



No dia seguinte saí as 8:30 da pousada e fui em direção a Florianópolis. Em função da gambiarra feita na transmissão ela estava fazendo muito barulho. Para não forçar mais o sistema decidi que iria devagar e sem forçá-la, por isso a tocada foi bem mansa, não passei dos 70 km/h e em nenhum momento fiz ultrapassagens que exigissem acelerações mais fortes. Próximo do meio dia cheguei a casa dos meus pais.

Na manhã seguinte, antes da concessionária Yamaha abrir, eu já estava na porta. Fiz as negociações necessárias e deixei a moto para uma revisão completa.

Falando um pouco a respeito da moto. Ela é uma XT-660R 2006 e eu a comprei em novembro de 2008 do marido de minha cunhada. Na ocasião a moto estava com 17.000 km sendo praticamente todos eles feitos em viagens nas quais estávamos juntos (Patagônia, Parati, Cananéia, Florianópolis, entre outras). Desde quando a comprei havia ido para Itapoá três vezes e só. A viagem para o Salto do Yucumã foi a primeira grande viagem que eu estava fazendo com ela e por ter sido meio repentina não deu tempo de comprar as peças de reposição, coisa que eu tinha para a minha moto anterior (Falcon). Minha idéia era ao voltar de viagem fazer a revisão dos 20.000 km, porém a transmissão não agüentou.

Após deixar a moto na oficina curti o dia com meus pais e minha irmã. Na manhã seguinte meu pai me levou a concessionária, onde fiz o check dos serviços, paguei a conta, despedi-me de meu pai e minha irmã e peguei a estrada. No caminho, que já é bem conhecido, vim relembrando os bons momentos da viagem e refletindo sobre os erros (manutenção) cometidos, além é claro de já começar a pensar nas próximas viagens. Cheguei em casa são e salvo as 13:30 horas após percorrer 2173 quilômetros em 5 dias.